terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A fogueira da Iniquidade

"Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos." (1 João 4:9)

Desde o dia em que aprendi o significado de iniqüidade, não parei de analisar o quão destruidoras são suas conseqüências. Em resumo, ela é a dureza e a insensibilidade de um coração, o qual não se importa mais com o pecado.  Assim, o iníquo comete progressivamente erros mais graves e não sente nem uma gota de arrependimento. Ou seja, uma vida sem lei.
A fogueira da iniqüidade é alimentada pela lenha da banalização. Na medida em que uma pessoa começa a aceitar como normal as mazelas da vida, novas labaredas surgem, de forma a se tornar um incêndio incontrolável. Então, a consciência individual é ofuscada pelo brilho das chamas, e não mais notada. Aquilo que antes era um alerta se transforma em desculpas, cujo objetivo é maquiar o pecado, dando-lhe uma aparência mais aceitável. Assim, a iniqüidade entra em cena, escravizando seu detentor.



Essa reflexão se intensificou logo após o término de uma festa de aniversário. Ao voltarmos por uma estrada, alguns cachorros saíram de um dos lados da pista, latindo para o carro. Porém, um deles acabou entrando bem na frente do automóvel. Havia como frear o veículo antes do choque, mas o motorista nem mesmo tirou o pé do acelerador, passando por cima do animal. E para finalizar o episódio carregado de brutalidade, ele, sem demonstrar nenhuma preocupação com o agonizante choro do cão, fez o que qualquer ditador sem escrúpulos faria: identificou como culpado a vítima e para ela apontou, com certo sarcasmo, o mérito de tal sofrimento por ter entrado em seu caminho.
Ao chegar em casa, a lembrança do triste acontecimento veio inevitavelmente a mim.  Comecei a não ver mais aquela vítima como um cachorro de rua, mas as tantas mulheres cujos casamentos foram atropelados pela iniqüidade de seus maridos. O cão se transformou nas incontáveis vidas cheias de traumas psicológicos, feridas pelas rodas da insensibilidade dos pais e familiares. Compreendi suas indignações, quando a esperança guardada no fundo dessas almas é esmagada pelo desprezo de seus agressores.



São nesses momentos que, com assombro, faço das palavras do apóstolo Paulo minhas: o amor de Cristo nos constrange. Muitos homens imperfeitos como eu poderiam ter misericórdia da vítima, mas amar o agressor somente através de Jesus é possível. Sem dúvida alguma, seu sacrifício na cruz é a maior expressão de amor demonstrada em todos os tempos, pois seu sangue foi derramado para livrar da morte tanto o iníquo quanto as vítimas da dureza de coração. Afinal, os dois são vítimas, direta ou indiretamente, do pecado que um dia entrou no mundo.

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I Coríntios XIII


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